A escrita... Tábua de salvação da humanidade!
Na solidão acompanhada pelos olhares displicentes dos que estão próximos, pela correria dos afazeres, pela incompreensão dos interlocutores arraigados dos seus prévios e deformados conceitos ou pela enfermidade crônica moderna do temor ao compromisso, perambulam carências de braços, de abraços, de ouvidos, de acolhida.
Falta a companhia ou a que se tem não satisfaz.
Entretanto, sobra um recurso discreto e silencioso: a escrita. Para muitos desconhecido, justamente pela superficialidade que hoje se impera, pelo medo de se ver e estar consigo que esta proporciona... Vale-se de um instrumento... O papel...
O papel tudo aceita. Permite. Tem disposição. Não teme o que será dito. Não julga. Espera. Não resmunga. Não inibe. Não estabelece limites ou tempo para o desabafo cessar.
O papel é espelho, nos revela... Dá a oportunidade do esvaziar-se e de ver o que foi dito. Ou melhor, de sairmos de nós mesmos e nos ver. Contemplar o que é íntimo. Oportunidade de refazer, reorganizar as idéias. Mudar a ordem do que se disse antes do efeito da interpretação inadequada poder ser gerada. Se auto conhecer pelo mapa próprio que nos foi traçado e inclusive perceber o que se é. Distinguir o que se quer, desejos, vontades, do que se tem, do que é real, racional. Flagrar em pequenos flashs o inconsciente, até que sejamos capazes de trazê-lo a tona.
Este mecanismo pode ser solitário, mas não necessariamente o será.
Pode ser conjunto, feito de pessoas. Pessoas papéis dispostas a receber a impressão das nossas almas, são raras, cada vez mais raras...
Mas elas existem!
Se fazem papel para receber a nossa escrita.
Sua disponibilidade e dedicação nos devolve o ânimo. Saciam. Passam nos a certeza de que somos importantes. De que somos amados. Se ocupam das nossas preocupações, dos nossos temores, dos nossos planos...
Nos ajudam a crescer por saberem receber os mapas dos nossos pensamentos e simplesmente iluminá-los com as luzes das possibilidades e das esperanças...
Nos ajudam a ver atalhos ou novos caminhos, antes impensados e, para outros destinos...
Talvez seja este o significado de se atribuir a alguém um "papel" em sua vida e se afirmar:
_ Você não imagina o papel que tem em minha vida!
Ou:
_ O seu papel é importante e insubstituível pra mim!
Os papéis são refletidos nos afetos das amizades sinceras ou dos amores amantes.
Eu quero ser papel importante na vida de alguém.
Quero e preciso de pessoas feitas papel em minha vida. Ter histórias impressas em mim e escrever a minha história em outras vidas.
De forma inesquecível.
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